“Acreditamos no ser humano em primeiro lugar, respeitando a individualidade e a diversidade”
Em uma história já famosa aqui na Fundação, o pediatra Dr. José Luiz Setúbal, nosso fundador, foi questionado sobre o motivo de ter escolhido medicina em vez de seguir os negócios de sua família, e sua resposta foi: “Sempre gostei mais de gente do que de números”.
Números são importantes (e falaremos mais sobre isso em outras postagens, quando o tema for “sustentabilidade”), mas em uma instituição que se dedica à saúde de crianças, seja na forma de assistência, seja na pesquisa, no advocacy ou em qualquer outra atividade que, invariavelmente, tem como objetivo o bem-estar das crianças, não tem como as pessoas não estarem em primeiro lugar.
Humanismo, medicina e pediatria. Dentre as especialidades médicas, a pediatria talvez seja aquela que melhor preserva o caráter humanístico da medicina, que em seus primórdios realizava uma abordagem holística do paciente, ou seja, considerando seu contexto biopsicossocial, seu histórico, hábitos e tudo mais que tivesse influência sobre sua saúde.
Essa característica foi se perdendo ao longo do tempo, em especial a partir do fim do século XIX, com o avanço de uma nova abordagem que valorizava em primeiro lugar a técnica e o conhecimento científico na qual a atenção foi se deslocando do paciente como um todo para a parte adoecida desse paciente (o coração, a perna, o braço, por exemplo) que deveria ser tratada por um especialista naquela parte específica.
Com isso, o exercício da medicina se desvinculou das humanidades e essa desumanização atingiu a área da saúde como um todo, sendo relativamente recentes (início dos anos 2000) as discussões sobre a importância de uni-las novamente, promovendo a (re)humanização da assistência em saúde.
Porém, conforme dissemos acima, a pediatria é um tipo peculiar de especialidade na medida em que mantém esse olhar holístico sobre o paciente. Inclusive, foi essa característica que levou o Dr. José Luiz a escolhê-la dentre tantas outras. Nas palavras dele:
O que me encantou na pediatria foi a possibilidade de acompanhar uma criança de 0 até (naquela época, década de 1980) os 12/15 anos. Hoje em dia até os 18 anos. Não tratar da doença, mas tratar da saúde: da sua saúde psicológica, do seu desenvolvimento, da sua relação com o mundo.
Uma instituição que já nasce humanizada. A Fundação surge, portanto, a partir da iniciativa de uma pessoa (o Dr. José Luiz) que desde muito cedo gostava mais de pessoas do que de números, que se torna pediatra por admirar a abordagem holística sobre o paciente e que, após anos de atuação, adquire em 2005 um hospital pediátrico (o Sabará). Hospital este que, por sua vez, já contava com uma extensa trajetória de atendimento humanizado aos seus pacientes. Com a união dessas trajetórias, cria-se uma instituição que desde sua origem tem o humanismo como principal valor.
Acreditar no ser humano. Segundo o médico Dr. Aurélio Molina da Costa, o humanismo é uma crença no ser humano, em seu valor, na sua capacidade de progredir e construir uma sociedade melhor. E é com base em tal crença que a Fundação atua colocando as pessoas em primeiro lugar e promovendo oportunidades para que se desenvolvam e alcancem o máximo do seu potencial.
Esse valor está presente no dia a dia da instituição e se destaca em algumas iniciativas que serão trazidas nas próximas postagens e que têm como objetivo o reconhecimento e o desenvolvimento da nossa humanidade, seja por meio da reflexão filosófica, do diálogo, da troca de experiências ou do cuidado hospitalar. Ou seja, sempre buscando aprimorar as relações em diversos níveis e entre todos que fazem parte da instituição, que por sua vez serão capazes de levar esse valor para além dela.
Referências:
BENEVIDES, Regina; PASSOS, Eduardo. Humanização na saúde: um novo modismo? Interface Comunic, Saúde, Educ, v. 9, n. 17, 2005. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/icse/2005.v9n17/389-394/pt.
BYNUM, William. História da medicina. Porto Alegre: L&PM, 2011.
COSTA, Aurélio Molina. Humanização da assistência à saúde: bases teórico-filosóficas e sugestões pragmáticas. Disponível em: https://entrelacosdocoracao.com.br/2019/12/humanizacao-da-assistencia-a-saude-bases-teorico-filosoficas-e-sugestoes-pragmaticas/.
LEITE, Telma Alves de Almeida Fernandes; STRONG, Maria Isabel. A influência da visão holística no processo de humanização hospitalar. O mundo da saúde São Paulo, v. 2, n. 30, 2006. Disponível em: https://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/35/influencia_visao.pdf