Nós <3 Voluntariado. Quando pensamos em filantropia, no sentido de fazer o bem aos outros, uma das primeiras ações que vem à cabeça é o trabalho voluntário, especialmente por seu caráter de doação. Como diz a Sandra Setúbal, que é diretora do voluntariado e presidente do Instituto Pensi, “o voluntário doa o que temos de mais importante e precioso, que é o nosso tempo, e faz isso com afeto, com amor e boa vontade”. E por que o tempo é algo tão precioso? Porque quando falamos de tempo, estamos falando de “tempo de vida”, o que significa que o voluntário doa parte da sua vida a uma causa e/ou a outras pessoas, e não existe nada que represente tão bem a grandeza do ser humano e o amor à humanidade quanto isso. Por isso, o trabalho voluntário é um destaque da Rede de Humanização do Sabará e um orgulho para a Fundação como um todo.

Vai brincar! A brincadeira tem um importante papel no processo de desenvolvimento da criança, permitindo a ela se expressar, interagir com o mundo, exercitar a criatividade e adquirir importantes habilidades cognitivas e comportamentais. Por isso, quando a criança está hospitalizada, ela pode, deve e precisa brincar, e garantir que isso aconteça é a principal missão dos voluntários do Sabará.

Trazemos abaixo uma experiência contada pela voluntária Rebeca Coeli Lancha Moreira, que está há 10 anos doando seu tempo e se doando para auxiliar os pacientes e suas famílias a lidarem com um momento estressante como é a hospitalização.

Certa vez que eu entrei em um quarto, o menino devia ter uns 10 anos e nós tínhamos levado desenhos. Daí eu pensei "essa criança não vai querer pintar um desenho". Porque não é desenhar, é pintar um desenho. Eu olhei para ele e falei assim: "você já jogou STOP?" Ele olhou para mim e respondeu: "não sei o que é isso". Falei "vou te ensinar". Aí eu peguei o desenho, virei ao contrário, fiz o STOP atrás. STOP, você sabe, aquele joguinho que você põe fruta, flor, fantasia, filme, carro, enfim. Você põe o que você quiser, e aí você sorteia a letra e precisa escrever o que começava com aquela letra de fruta, de cor, de carro, enfim, do que a gente tinha posto. Ele achou o máximo e aí a mãe começou a jogar, porque ela falou: ‘Nossa, esse jogo eu jogava quando era criança’.”

Na brincadeira e no sofrimento. Quem realiza trabalho voluntário no Sabará tem como missão brincar, e isso parece e, muitas vezes, é muito legal. Porém, não devemos esquecer que esse brincar não acontece em um ambiente recreativo, mas em um hospital, por isso os voluntários também precisam estar prontos para lidar com situações muito delicadas que, de todo modo, fazem parte da experiência humana: o adoecimento, o sofrimento, a morte. Conforme explica Sandra Setúbal:

Ao entrar em um quarto, você não sabe o que vai encontrar. Você pode encontrar uma criança que está ali para fazer inalação. Ela vai tomar inalação, ela não gosta, mas você brinca com ela. Tem crianças que estão ali para tomar uma quimioterapia. É complicado, ela vai passar mal... Você não sabe em que momento vai chegar do tratamento e de que momento emocional você vai chegar em relação à mãe, à criança e à família”.

Esse é um dos motivos pelos quais os voluntários passam por uma formação muito completa e rigorosa com diversos profissionais, na qual recebem orientações que vão desde a higienização correta das mãos e outros cuidados para manter a segurança dos pacientes até a maneira de entrar nos quartos e abordar as famílias, sempre respeitando o momento e a vontade delas, que inclusive podem se recusar a receber os voluntários. Foi o que a Rebeca contou também ao CMR: “Uma coisa que nós falamos para a criança é: ‘Várias pessoas entram aqui e você não pode falar que não quer. No nosso caso você pode falar que não quer’, mas eu brinco e falo assim: ‘só que se você falar isso eu vou chorar muito’".

Mais fortes do que a Covid-19. O voluntariado do Sabará não parou durante a pandemia, mas foi desafiado a encontrar diferentes maneiras de atuar naquele período. A pandemia acabou e o voluntariado continuou, provando que existe um vírus mais forte do que a Covid-19, que é o que explica a querida Caroline Sanches, coordenadora do programa de voluntariado: “quando a gente é picado pelo mosquitinho do voluntariado, não adianta, a gente não para mais. Esse vírus que é tão bom, esse vírus é que tinha de contagiar mesmo, pegar, dar uma pandemia geral, é o do voluntariado, é o da solidariedade. Muita coisa estaria melhor se as pessoas tivessem sido picadas por esse mosquito. Mas aos pouquinhos a gente vai disseminando”.


Referências

QUEIROZ, N. L. N.; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Paidéia, Ribeirão Preto, 16 (34), ago./2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/paideia/a/yWnWXkHcwfjcngKVp6rLnwQ/