No pior cenário, o melhor de nós. 2020 foi um ano desafiador para o mundo e emblemático quando falamos de filantropia. Não temos dúvida de que momentos críticos podem revelar aspectos nocivos do ser humano, mas também podem trazer o que há de melhor nele, demonstrando o verdadeiro espírito de união e solidariedade do qual podemos nos orgulhar. É por isso que dizemos com muita alegria que durante os anos da pandemia as doações destinadas ao enfrentamento da crise alcançaram cifras inéditas na história brasileira (segundo o Monitor das Doações Covid-19, foram doados mais de 7 bilhões de reais até agosto de 2021), fornecendo também um impulso para que se buscasse compreender os padrões dessas doações e o ecossistema da filantropia como um todo, e foi a essa missão que se lançou o Núcleo de Filantropia da FJLS (hoje Pensi Social), criado naquele mesmo ano.  

Nasce um núcleo de filantropia. A filantropia se tornou tema de estudo da Fundação em 2019, quando o Dr. José Luiz deu uma entrevista para a revista Veja destacando que os ricos brasileiros doam pouco e apresentando uma série de observações sobre os motivos (muitas vezes, desculpas) para que seja assim. Essa entrevista acabou gerando uma discussão com um dos pesquisadores do Núcleo de Bioética da Fundação, o cientista social Marcos Paulo de Lucca-Silveira, que tinha como tema de estudo a justiça distributiva e foi então convidado a se dedicar com mais profundidade ao tema filantropia, gerando assim o embrião do que já no ano seguinte, durante a pandemia, se tornaria o Núcleo de Filantropia. Não por acaso, a primeira publicação do Núcleo foi uma análise das doações empresariais realizadas durante a pandemia, chamada “Filantropia corporativa no Brasil”, cujo link você encontra no final desta postagem, assim como a entrevista do Dr. José Luiz na Veja.

Nesses primeiros cinco anos de trabalho, aquele pequeno núcleo formado por apenas duas pessoas (Marcos Paulo e o próprio Dr. José Luiz) cresceu em equipe, em estrutura e principalmente em importância dentro da estratégia da Fundação e externamente, por seus trabalhos. Hoje denominado Pensi Social, ele se dedica à realização de pesquisas não apenas em filantropia como em ciências sociais com foco em saúde infantil, e conta com mais de 40 pesquisadores da área de ciências sociais, divididos em diferentes laboratórios.

Por que estudamos filantropia? Entender as características da filantropia no Brasil torna possível criar estratégias mais assertivas, baseadas em dados robustos e não apenas em intuições. Afinal, como é que pessoas e organizações doam? E por quê? Como alocar recursos da melhor maneira? Qual é o papel das fundações filantrópicas dentro de uma sociedade democrática? Responder a essas e outras questões é fundamental para o avanço da filantropia, e o Pensi Social faz isso tanto por meio de pesquisa e reflexão teórica quanto indo a campo. A seguir Marcos Paulo fala sobre isso:

Para entender a filantropia de verdade é preciso entender como os atores no campo estão agindo. Acho que esse é um gigantesco aprendizado para nós, porque você passa a atuar com os atores do campo, passa a pensar a partir do que eles estão fazendo. Você consegue refletir melhor sobre o próprio campo para compreendê-lo, entender suas carências, suas limitações. E no que você pode ajudar ou não pode, pela sua própria limitação enquanto pesquisador.

Correndo riscos pelo bem comum. Realizar pesquisas pode trazer muitos benefícios para a sociedade, mas não deixa de ser algo arriscado, pois implica investir em algo que talvez não traga resultado algum. Porém, ainda segundo Marcos Paulo, uma das grandes vantagens das fundações filantrópicas é que elas têm mais liberdade para assumir tais riscos: “Um ator estatal, por exemplo, é regido por eleições. Ele está olhando de quatro em quatro anos o seu sucesso. Fundações, ao contrário, não devem estar olhando a tão curto prazo. Elas podem pensar em pautas de longo prazo e com impacto muito mais duradouro para uma sociedade como o Brasil”.


Saiba mais:

Entrevista do Dr. José Luiz na Revista Veja: https://veja.abril.com.br/economia/os-ricos-doam-pouco

Monitor de Doações Covid-19: https://covid.monitordasdoacoes.org.br/pt

Filantropia corporativa no Brasil: https://fundacaojles.org.br/biblioteca/filantropia-corporativa-no-brasil-uma-analise-das-doacoes-empresariais-em-meio-a-pandemia-da-covid-19/

Foto: Alécio Cezar