Um mistério chamado Viagem Fantástica. Em 2017 os corredores da FJLS, do Sabará Hospital Infantil e do Instituto Pensi foram tomados por um mistério. Ia acontecer alguma coisa, uma tal Viagem Fantástica, que ninguém sabia o que era. Foi um burburinho, uma coisa que circulou, atiçando a curiosidade das pessoas. Quem quisesse podia se inscrever, seria nos dias 19 e 20 de agosto (sábado e domingo). Mas se inscrever sem saber? Isso mesmo! E assim, mais de cem pessoas se inscreveram, lotando dois ônibus que iam para... ninguém sabia onde. Só souberam quando estavam a caminho. O destino: Jardim Lapenna, em São Miguel Paulista. A missão: Transformar dois espaços degradados em praças maravilhosas. A dificuldade: não podia usar dinheiro. Todos os materiais precisavam ser arrecadados na própria comunidade. Ah, e estava fazendo frio e caindo a maior chuva!

E assim foi concebida a Viagem Fantástica. A Viagem Fantástica surgiu de uma demanda dos Cuidadores da própria instituição, que durante as Conversas com o Presidente (já falamos sobre esse evento em outra postagem) expressaram a vontade de realizar alguma ação voluntária. E a Fundação resolveu oferecer a eles a oportunidade, contando para isso com a parceria do mediador e transformador social Edgard Gouveia Jr., que apresentou uma proposta de intervenção e se juntou à equipe da Fundação para fazê-la acontecer.

Fazendo o bem e conectando pessoas. Então, no dia 19 de agosto de 2017, os voluntários participantes da Viagem Fantástica desceram dos ônibus e foram trabalhar, mas a ideia era que aquilo não fosse apenas um mutirão, mas algo transformador para todos que participassem (voluntários e comunidade), que remetesse àquilo que está na origem da filantropia, ou seja, o amor à humanidade (humanidade que conecta as pessoas). E para explicar isso, ninguém melhor do que o Edgard Gouveia Jr, que idealizou, viveu e criou memórias naquela ocasião: 

As pessoas têm histórias, as pessoas têm memórias, por isso nós buscamos conhecer essas histórias e essas memórias para de fato nos conectarmos, sentirmos empatia, para que eu me veja no outro e vice-versa. O outro também se verá em mim. Então é um encontro genuíno. Não é um monte de gente para ajudar quem é carente. Somos nós ajudando a nós mesmos. Nossa família, nossos amigos, nossos vizinhos. Essa é a ideia. E que isso tudo possa trazer também a melhor versão de nós mesmos. Como é que eu, ao passar por essa experiência, crio laços mais poderosos com as pessoas que estou apoiando? Mas também laços mais poderosos com quem está do meu lado? Essa experiência ressignifica as relações que a gente chama de trabalho. Às vezes tem uma pessoa que está trabalhando do meu lado há anos, mas é só alguém que trabalha fazendo uma coisa. Quando eu carrego cimento junto com ela, quando eu suo, quando a gente faz super junto... quando a gente percebe a realização comum, que está fora do que é obrigação, que eu estudei para fazer, isso ressignifica as relações. Às vezes você pode ganhar um amigo para o resto da vida.

O que fizemos depois. A primeira Viagem Fantástica foi um marco na história da Fundação, e desde então vem sendo realizada anualmente (com exceção de 2020 e 2021, por conta da pandemia). Ao longo desses anos, a ação foi realizada na Associação Rainha da Paz, que trabalha com crianças com necessidades especiais; em SAICAS (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes), no Instituto Anchieta Grajaú, onde foi criado um memorial pelas crianças vítimas de covid-19; e, na edição de 2024, retornamos às origens para reencontrar os amigos do Jardim Lapenna e levar mais melhorias à comunidade, JUNTO com a comunidade. Saiba como foram essas edições nos links no final do texto.

Ao longo dos anos a própria ação se aperfeiçoou, e as formas de ajudar se multiplicaram, assim como a quantidade de participantes. Quem pode, vai no dia, mas quem não pode ainda tem a oportunidade de contribuir de outras maneiras, seja financeiramente, seja nos preparativos. E assim mais e mais pessoas são mobilizadas.

E os recursos para fazer tudo isso? Conforme comentamos acima, um dos desafios da Viagem Fantástica era que os voluntários não podiam comprar coisas, mas sim usar os recursos disponíveis na própria comunidade. Como disse o Edgard, “não tinha essa de Zé Luiz comprando material, não”. A intenção era mostrar como a comunidade estava cheia de recursos, que as pessoas não estavam lá apenas para receber ajuda, mas que podiam, sim, ser doadoras e contribuir com a melhoria da própria comunidade, e para acessar tais recursos não era necessário estabelecer relações comerciais, mas humanas. E as pessoas doaram (tintas, cimento, ferramentas), se juntaram aos voluntários, participaram. Elas doaram a si mesmas. O próprio Dr. José Luiz conta como ficou feliz e surpreso ao chegar no domingo para continuar com o trabalho e ver que os próprios moradores já estavam trabalhando nos muros.

Um bom lugar para colocar o que temos de melhor. Encerramos esta postagem com outra história contada pelo Edgard, sobre a doação de plantas para as praças no Jardim Lapenna:

Uma senhora falou assim: “Pega essa plantinha ruim aqui que eu tenho”. Depois ela foi vendo que a praça ia ficando pronta: “Pega essa aqui também. Não, leva essa daqui também”. No final foi dando as melhores plantas dela porque viu que tinha um lugar maravilhoso para colocar.


Saiba mais:

Viagem Fantástica 2017: https://institutopensi.org.br/uma-viagem-realmente-fantastica/

Viagem Fantástica 2018: https://institutopensi.org.br/trabalho-voluntario-fundacao-jose-luiz-egydio-setubal/

Viagem Fantástica 2019: https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/instituto-pensi-participa-da-viagem-fantastica-2019/

Viagem Fantástica 2022: https://institutopensi.org.br/um-memorial-para-as-criancas-vitimas-de-covid-19/

Viagem Fantástica 2023: https://institutopensi.org.br/mais-uma-viagem-realmente-fantastica-na-ajuda-das-pessoas/

Viagem Fantástica 2024: https://www.youtube.com/watch?v=t5bulqQa6EA&t=65s