Filantropia

A FJLES avalia que, sem a participação da sociedade civil, não há chance alguma de o Brasil cumprir a tarefa de cuidar bem de suas crianças. Incontáveis organizações – de causas diferentes, em regiões diferentes e com estratégias diferentes – fazem um trabalho fundamental para melhorar a saúde da infância brasileira. Por isso, apoiamos instituições em projetos relacionados às nossas áreas prioritárias: saúde mental, prevenção à violência, segurança alimentar e imunização. Em 2023, investimos R$ 6,5 milhões em 52 iniciativas, um aumento de mais de 50% na comparação com valores de 2022.

São projetos bastante distintos, que agrupamos em três programas. A maior parte (80%) está no Saúde Infantil – como o nome sugere, intrinsicamente ligado à missão principal da FJLES. Nele, alguns repasses envolvem iniciativas que lidam diretamente com crianças e adolescentes. É o caso do Busca Ativa Vacinal, do Unicef, cuja etapa piloto foi concluída em 2023, com treinamento para 12 mil pessoas em vários municípios do Semiárido e da Amazônia. Ou do edital Territórios Clínicos, em que, com a Fundação Tide Setubal, investimos R$ 1,5 milhão em propostas de dez organizações que dão atendimento psicológico em periferias. Outros repasses beneficiam a produção e a disseminação de conhecimentos cruciais para gerar diagnósticos corretos e soluções bem embasadas. Por exemplo, a plataforma Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes, do Instituto Desiderata, que reúne inúmeros dados oficiais sobre segurança alimentar e nutricional. Ou o Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares (Luppa), do Instituto Comida do Amanhã, que incentiva a elaboração de programas locais sobre o tema e a troca de experiências.

Além da diversidade temática – característica necessária para fazer frente ao caráter multifacetado do cuidado integral com a saúde infantil -, também estamos buscando cada vez mais diversidade regional. Em 2023, 13 dos 52 projetos eram do Norte ou do Nordeste (em 2022, dos 31 projetos, havia apenas três no Nordeste, nenhum no Norte). Essa mudança, a ser ainda mais aprofundada, implicou mergulhar em realidades bem díspares em relação às que a Fundação costuma encontrar no estado de São Paulo. Por isso, tivemos o desafio de costurar novas parcerias e formar novas redes.

Um segundo programa, responsável por 14% dos investimentos de 2023, é o Estímulo à Cultura de Filantropia, que apoia associações, institutos e movimentos voltados ao fortalecimento institucional do terceiro setor. Por meio desses recursos, colaboramos com a Associação Brasileira de Captadores de Recurso (ABCR), a Associação Paulista de Fundações (APF) e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), entre vários outros.

Já o programa Comunidades Saudáveis inclui sobretudo melhorias de espaços verdes urbanos e trabalho voluntário em prol de crianças hospitalizadas ou em serviços de acolhimento institucional.

Boa parte dos projetos que apoiamos, em especial no programa Saúde Infantil, tem caráter mais estruturante, com potencial de gerar impacto amplo por influenciarem as políticas públicas tanto em nível local quanto nacional. Mas a própria Fundação vem investindo em iniciativas que chamamos de incidência política: aquelas que procuram estabelecer contato estreito com tomadores de decisão, como governos e legisladores. É uma forma de provocar mudanças mais perenes na vida das crianças e dos adolescentes brasileiros. Esse foi um tipo de ação que se intensificou em 2023, com a entrada de um governo federal que reativou instâncias de diálogo com a sociedade civil. A FJLES passou a participar do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), como observadora, e do grupo de trabalho sobre primeira infância no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, ligado à Presidência da República.

São muitas ações e muitos enfoques (como ficará claro nos textos desta seção), porque são muitos os esforços necessários para assegurar às crianças brasileiras uma vida digna.