O Cuidar segundo Cuidadores. Se você vem acompanhando nossas postagens sobre os valores institucionais da FJLS, já percebeu que sempre nos referimos aos funcionários como Cuidadores. É assim que se chamam todos aqueles que trabalham na instituição – seja no Sabará, no Instituto Pensi ou no Infinis, tendo ou não contato direto com pacientes. Ou seja, independente da atividade exercida, todas as relações no dia a dia se baseiam no cuidado, na atenção para com as outras pessoas, para com a instituição e com aquilo que estamos fazendo, até por entender que essas ações, mesmo aquelas mais burocráticas, têm como objetivo algo que vale a pena e faz sentido, que é o bem-estar da infância e da sociedade.
Por isso, na postagem de hoje, vamos percorrer alguns ambientes e atividades da Fundação e encontrar Cuidadores para que digam com suas próprias palavras e a partir de suas experiências como enxergam o Cuidar no dia a dia.
No Pronto-socorro. O Pronto-socorro é aquele lugar onde, não raro, as pessoas se sentem reduzidas a um número em uma fila de espera, e esse é um péssimo sentimento, especialmente quando se está enfrentando um problema de saúde. Conforme comenta o Daniel Zacharias, que é um dos fundadores do Saracura, o grupo musical que se apresenta no Sabará há mais de vinte anos, “no meio do pronto-socorro é muito comum a gente achar que ‘poxa, esqueceram meu número, eu estou aqui passando mal e ninguém está nem olhando pra mim, ninguém sabe de mim’, então é muito importante deixar claro para aquela pessoa que, sim, ela está sendo percebida, está sendo acolhida”, e ele enfatiza a importância da empatia, de você “se colocar no lugar do outro, então entender o que o outro está precisando, querendo, ansiando, passando, principalmente quando você está em um hospital, já que ninguém ali está em uma situação tranquila”.
A recepcionista é Cuidadora. Por causa disso, o Cuidar no Sabará começa bem antes do paciente entrar no consultório médico, e sobre isso trazemos a fala da Renata Requena, que trabalha na área administrativa há mais de vinte anos e lembra que mesmo hoje persiste uma visão de que a área administrativa de maneira geral cuida de papel e o assistencial cuida da criança. Mas as coisas não são bem assim porque se a recepcionista (por exemplo) focar só no papel, “é um papel, você olha, você lê, você sabe o que você tem de fazer, você dá continuidade e o Hospital vai receber e está tudo bem... mas dessa maneira a pessoa não evolui”. Mesmo que o principal contato da recepcionista seja com o responsável, ela também tem a responsabilidade de cuidar:
Então nós cuidamos como? Nós cuidamos quando a gente consegue dar uma palavra de acalanto, quando a gente consegue olhar nos olhos e falar "olha, o seu médico vai vir te atender, aguarda um pouquinho", oferecendo um chá, água, dando informações. Isso pode até parecer pouco, mas é um cuidado que implica olhar para a pessoa, perceber como ela está se sentindo (angustiada, preocupada), dar informações que podem ser importantes para ela e que podem auxiliar com sua aflição (por exemplo, explicar o motivo para que o médico esteja atrasado). Então tudo isso é um cuidar. Não estamos falando um cuidar assistencial, mas de cuidar de um ser humano, de uma pessoa que está precisando ali naquele momento.
Escolha sua música! Conforme dissemos acima, o grupo Saracura faz parte da Rede de Humanização do Sabará (junto com o Pronto Sorrir, a equipe de psicologia, voluntários, child life specialist e outros) e atua em todas as áreas do Hospital, do Pronto-socorro à UTI. No caso do Pronto-Socorro, mesmo que seja um espaço coletivo (ao contrário dos quartos), o Saracura não faz uma apresentação coletiva, e isso acontece dessa maneira porque, segundo o Daniel, “se você toca para todo mundo, na verdade você não toca para ninguém. Pessoalmente, você não faz um encontro com ninguém”. Em vez disso, eles descobriram que a melhor maneira de fazer com que as pessoas se sintam acolhidas é se aproximando das famílias individualmente e oferecendo uma música (que inclusive a família pode recusar). E não qualquer música, mas aquela música que aquela família em especial deseja ouvir... do Roberto Carlos ao Alecrim Dourado! Afinal, ainda nas palavras do Daniel, “a melhor música que você pode ouvir é a música que você quer ouvir e ponto”.
A equipe multiprofissional cuida. Seja por um resfriado, seja por um problema mais complexo, quando uma família procura atendimento para sua criança ela deseja ser ouvida e compreendida, e receber do especialista uma orientação ou solução para o problema. E um problema comum (mas não necessariamente simples) que aflige pais e responsáveis de todos os cantos do mundo e de todas as classes sociais se refere às dificuldades alimentares das crianças.
O Sabará tem um ambulatório especialmente dedicado a esse tema, o CENDA (Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares) cujo modelo de atendimento inclui diferentes profissionais, como nutricionista e fonoaudiólogo, e uma abordagem que leva em consideração aspectos que normalmente não são considerados em uma consulta pediátrica tradicional, como o ambiente da criança e seu entorno, o relacionamento dela com seus cuidadores, mudança de escola e outros fatores. Isso faz com que seja uma consulta extremamente longa, demorando de duas horas a duas horas e meia. E segundo o Dr. Mauro Fisberg, coordenador do CENDA:
Normalmente essas famílias não estão acostumadas a ter uma atenção específica para o problema. É muito comum que pediatras, por não terem um treinamento específico na área de nutrição, avaliem a criança que come mal buscando só uma doença que esteja relacionada com o problema de alimentação. Como muitas vezes ele afasta esse problema de doença, acaba determinando para a família: ‘Olha, não é nada. Você pode simplesmente continuar que não está acontecendo nada’. E é uma situação que a gente vê que não é real. (...) Se o pediatra fala para a família que isso não é nada, o que vai acontecer é que a família vai buscar outro tipo de atenção. Isso é muito frequente. Por isso que eles peregrinam por uma série de serviços profissionais até que alguém tente juntar todas as características e mostrar o que está acontecendo. A família quer ser ouvida, a família quer escutar.
Em outras palavras, a família não quer ser apenas atendida, mas cuidada daquela forma descrita pelo Dr. José Luiz na primeira postagem da nossa série sobre esse tema.
Nosso assunto ainda não terminou. Na próxima semana teremos a continuação dessa abordagem sobre o Cuidar que atravessa diferentes áreas e atividades da Fundação. Não perca!